domingo, 6 de março de 2011

Objetos de poder e o cristal de quartzo

Quando você andar pelos bosques ou por outros lugares agrestes, fique atento aos objetos que podem ser incluídos em sua bolsa xamânica. Do ponto de vista xamânico, os objetos que o atraírem, sem um motivo muito claro, podem ser objetos de poder cujo aspecto espiritual pode lhe ser revelado no Mundo Profundo, quando de uma viagem. De fato, você poderá estar recolhendo objetos de poder há muitos anos, sem o saber! Lembra-se dos pés de coelho da sua infância? E daquela pedra diferente que encontrou na orla marítima e da pena que achou numa campina da montanha? Todos esses objetos poderiam ser objetos de poder, com poderosas associações e lembranças.

Muitos xamãs guardam seus objetos de poder, seus "medicamentos", numa bolsa de pele de animal selvagem. Alguns guardam-nos em sacos de pano, ou numa bolsa de couro ou mesmo numa caixa de papelão. A bolsa xamânica é algo que um xamã costuma manter embrulhado, desembrulhando-a ou desenrolando-a publicamente apenas em ocasiões rituais. Os objetos que ali estão são altamente pessoais e, como outros materiais de poder, não é bom que sejam exibidos nem discutidos demais em conversas, pois isso está a um passo da ostentação e pode resultar na perda do poder. Quando o xamã desembrulha sua bolsa xamânica e mexe com os objetos de poder, estes são mnemônicos e reacendem em sua memória as experiências xamânicas com as quais estão relacionados.

Embora potencialmente exista uma variedade quase que infinita de objetos de poder, há um deles, em particular, que é sempre encontrado em mãos de xamãs. Trata-se do cristal de quartzo. Na América do Norte, bem como na América do Sul, na Austrália, no sudeste da Ásia e em outros lugares mais, os xamãs conferem singular importância a essas pedras pontiagudas, sextavadas, quase sempre transparentes ou leitosas. Os xamãs usam ampla variedade de tamanhos, variando desde pedras pequenas como uma falange do dedo mínimo até outras, mais raras, de um pé, ou mais, de comprimento.

O cristal de quartzo é considerado o mais forte objeto de poder entre povos que vivem tão distantes como os Jivaro, na América do Sul, e as tribos australianas.Povos tão distantes um do outro como os aborígenes da Austrália ocidental e os que falam o yuman no sul da Califórnia e da Baixa Califórnia adjacente consideram que o cristal de quartzo é "vivo" ou uma "pedra viva". O emprego comum dos cristais de quartzo no xamanismo existe há milhares de anos.

De certa maneira, os cristais de quartzo constituem uma "luz solidificada", que se relaciona com a iluminação e a vidência. Por exemplo, entre os Wiradjeri australianos, aconteceu um fenômeno que não é muito diferente do conceito de "terceiro olho": os xamãs que estavam em treinamento tinham um pedaço de quartzo cravado na testa para que pudessem "ver corretamente as coisas".1 Também na Austrália, os cristais de quartzo eram muitas vezes comprimidos ou inseridos na pele desses homens em treinamento, ou esfregados sobre o corpo deles para dar-lhes poder, e os Wiradjeri derramavam "quartzo liqüefeito" sobre os seus corpos.

Os xamãs de há muito usam seus cristais de quartzo para a vidência e a adivinhação. A bola de cristal que as pessoas da nossa cultura conhecem, pelo menos de nome, é, em última análise, o antigo cristal xamânico aperfeiçoado. Entre os Yualai (Euahlayi), na Austrália, os melhores xamãs praticam a contemplação do cristal para "obter visões do passado, do que está acontecendo no presente à distância e do futuro".Tanto os Yualai como os distantes Tsimshian da costa noroeste da América do Norte mandam o cristal de quartzo, ou seu espírito, procurar a imagem de determinada pessoa. Os Tsimshian usavam essa técnica até mesmo para realizar curas a longa distância. O xamã enviava o cristal, á noite, para trazer de volta a imagem da pessoa doente. Quando a imagem chegava, o xamã dançava em torno do cristal, sacudindo seu chocalho (presume-se que ele esteja entrando em EXC), e então ordenava ao cristal, seu espírito auxiliar, que extraísse da imagem o poder nocivo que ali havia entrado. A pessoa distante, cuja imagem ali estava, era curada por esse meio.

O xamã costuma conservar seus cristais de quartzo longe dos olhos das pessoas e dos raios do sol. O xamã Jivaro os mantém numa pele de macaco com que faz uma bolsa a tiracolo, junto com outros objetos, como folhas verdes de fumo e uma pequena cabaça para macerar as folhas em água fria. O xamã aborígene australiano carrega seus cristais de quartzo numa bolsa xamânica, juntamente com outros objetos de poder. Pode, também, mantê-los no estômago, assim como o xamã Jivaro mantém os espíritos auxiliares. O xamã Tsimshian pode carregar seu cristal de quartzo numa bolsa que leva pendurada ao pescoço. O xamã Paipai dos nossos dias (Yuman do oeste) pode levar seu cristal de quartzo numa pequena bolsa de pele de veado ou num bolso da calça. Ele depende desse cristal a tal ponto que este pode funcionar mais como um espírito guardião do que apenas como um espírito auxiliar.

Quando você começar a preparar sua bolsa xamânica, é bom que adquira pelo menos um cristal de quartzo para colocar nela. Tais cristais são o centro de poder nas bolsas xamânicas de muitos xamãs. Seu poder difunde-se por toda a bolsa e ajuda a energizar e manter o aspecto vivo dos objetos de poder.


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